“Do you pray for the senators, Dr Hale?”
“No, I look at the senators and I pray for the country.”
Edward Everett Hale
As rádios portuguesas têm sido proliferas em programas de humor. No passado recente, destacaram-se programas como Mixórdia de Temáticas (Rádio Comercial), Portugalex (Antena 1), Tubo de Ensaio (TSF) e Bloco Central (TSF).
O Tubo de Ensaio, entretanto falecido, representava o género «insult comedy» e servia de exercício de catarse a uma espécie de Robespierre sans moyens chamado João Quadros – criatura de obsessões («o Cavaco», «o Passos», «a direita») e ódios clinicamente certificados. Foi, durante anos, tolerado pela estação a conselho de médicos e criminologistas. Salvaram-se vidas, o que já não foi mau.
O Bloco Central, ainda no ar, é um fino exercício da denominada «comédia de enganos» onde duas mentes diametralmente opostas no que toca à ideologia, habitando corpos distintos, tentam enganar o auditório fazendo-se passar por uma unidade anatomicamente indivisa. O resultado é notável.
Recentemente – para ser mais específico: a semana passada – descobri um outro programa humorístico, também na TSF, a que deram o nome de Pares da República. Novamente no registo «comédia de enganos» (muito querido à TSF), e com claras referências ao saudoso Yes Minister, o programa simula diálogos entre supostos «senadores» da República (leia-se figuras de referência política e moral, de uma respeitabilidade a toda a prova), em tom ponderado, calmo e cordato, intermitentemente interrompido por hilariantes tiradas do mais puro nonsense, nalguns casos a roçar a infantilidade (género «oh mãe, prefiro o Chocapic à sopa de hortaliças»), provocando no auditório um desconcerto que tem tanto de cómico como de lúdico.
No programa que tive a felicidade de escutar, a personagem que se fazia passar pela dra. Maria de Lurdes Rodrigues (a imitação da voz estava perfeita, o que me leva a crer que há por ali dedo, ou melhor, corda vocal do Luís Franco-Bastos) afirmava, num estilo assertivo e levemente impaciente, «a austeridade é de direita!, a despesa pública é social-democrata, de centro-esquerda!» Neste excerto, o efeito humorístico foi especialmente conseguido porque, proferida a traquinice, seguiu-se um «silêncio de senadores» apenas interrompido pelo (suposto) moderador, que deu por terminado o programa. Uma maravilha.
Em matéria de humor, a produção portuguesa está imparável. À atenção do dr. Rocha Andrade (da personagem ou da figura real.)
(publicado originalmente aqui)