Nada há que se compare a um jantar impregnado de jornalistas, para se ter acesso ao retrato cru e razoavelmente fidedigno do recreio político que se vai desenrolando, sob o quotidiano dito «normal» de milhões de constituintes, no seio dos partidos políticos (também conhecidos como «aparelhos».)
Ouvimos e pensamos: «não pode ser assim tão mau». Pois não: é pior.
Regra geral, todos os partidos produzem e pastoreiam certo tipo de «funcionários»: treinados, desde tenra idade, no campus das jotas; hábeis no contacto com «as bases»; proprietários de três ou quatro ideias vagas sobre «ciência política» (normalmente apreendidas nas universidades de Verão ou num transitório e louvável esforço autodidacta); especialistas nas «inscrições compulsivas» e na actualização criativa de «cadernos». Gente muito animada, que faz questão de se «inscrever» na sociedade.
No meio da lufa-lufa, há registos de relativa acalmia, onde valores mais altos concorrem para a arregimentação e aguçam a concentração: nas vésperas da corrida ao poder (a união faz a força) ou depois da tomada deste (oba, oba). Sobretudo neste último caso.
É por demais sabido que estados de má nutrição, provocados por períodos de prolongada carência, são propícios à acrimónia, à ansiedade e à irreflexão. A chegada ao poder é uma espécie de plaina conciliadora: as arestas são removidas, as disputas afagadas, as excrescências opiniativas desbastadas, o nervosismo nivelado para níveis aceitáveis. É o tempo do amanho e da nutrição.
Isto tem mal? Não teria. O problema é que destas nebulosas sai gente que vai ocupar cargos de chefia, direcção e governo, com uma visão muito estreita do que é a política, o convívio democrático e, em última análise, o país real. O caldo iliberal, anti-democrático e acintoso que os alimentou, produzirá os seus efeitos na forma como se relacionam, como expõem os seus argumentos, como respeitam (ou não) a sua independência e a sua liberdade. Se isto não é trágico, anda lá muito perto.
Estarei eu a abraçar um discurso perigosamente generalizador, e por isso injusto e populista? Call a lawyer and sue me.
Não deixando de sentir como verdade muito do que diz, defendo que o cidadão individual tem que assumir as suas responsabilidades e não arranjar desculpas de mau pagador. Quem os coloca lá, tem que ser tratado como cumplice não como vitima.
o cidadão individual e os jornalistas (dos bons) que valorizam nos locais de trabalho aqueles que depois escarnecem nos jantares…