O episódio «perdoe-me dr. Castro Mendes, não sei onde estava com a cabeça» foi prodigioso. Estão lá todos os tesourinhos deprimentes que nos animam e salvam da modorra de um país normal: a pré-punitiva estupefacção pública do senhor ministro face ao atrevimento do funcionário; a subserviência do senhor director vertida numa cartinha acabrunhada em que o excesso de auto-justificação denuncia o mandante; o aplauso dos que, «como é evidente», viram no episódio um caso «óbvio» de «desrespeito» e de «quebra de lealdade», a exigir penitência; e, por fim, o gesto magnânimo do patrão, que lá tolerou a traquinice e manteve o assalariado no cargo. Uma delicia.