Roubo o título a um folheto distribuído em 1808, aquando da primeira invasão francesa, com o intuito de levantar a moral da população, exortando o povo a resistir. Era este o tom: Napoleão poderia tentar aniquilar exércitos, mas jamais conseguiria combater povos. Na prática, a publicação partia da constatação de que as forças napoleónicas estariam a perder força dada a dispersão de meios entre Portugal e Espanha, circunstância que precipitou a intervenção britânica.
Aterrando no Portugal de 2016, constatamos que as máquinas de propaganda envelheceram muito pouco. As três (da geringonça) têm estado incansáveis em fazer passar uma ideia simples: a esquerda unida expulsou a armada neoliberal europeia que, por interpostas pessoas num governo fantoche, havia invadido um povo bravo e um país lindo, destruindo gratuitamente lares, empregos e feriados.
Passos Coelho passou a ser retratado como um velho, cansado e rancoroso Junot, incapaz de aceitar a derrota e empenhado num cassandrismo bacoco e agoirento, próprio de quem gostaria que o «tempo voltasse para trás» (jamé!). A Europa desceu ao estatuto de fonte de todos os males (até o combate aos incêndios nos dificultou.)
Não foi por acaso que o doutor Costa tratou de nutrir apressada e augustamente o seu eleitor-alvo predilecto (o funcionário público), nem foi por acaso que o doutor Costa chamou para o seu aconchego o sr. Arménio Carlos e o sr. Nogueira, esse par de camélias zeladoras dos interesses económicos, profissionais e fisiológicos do eleitor-alvo predilecto do doutor Costa (outra vez: o funcionário público.)
Falhada a tentativa, em plena campanha eleitoral, de conduzir o povo a um estado de sensibilidade patológica de onde sairia um babush feito santo e salvador (o homem perdeu estrondosamente as eleições), foi chegada a hora, no pós-arranjo eleitoral, de tratar do futuro – um futuro que é próximo mas nebuloso, como parece atestar o fiasco do cenário macroeconómico imaginado e partejado, no longínquo mês de Abril de 2015, por um conjunto de peritos que insiste em pastorear a ralé como se nada tivesse acontecido.
Em suma: afastados os «monstros», tratou-se de restabelecer a ordem natural das coisas (em consonância com o regresso ao poder do partido natural português), com a narrativa da «idade das trevas» pré-geringoncial ao rubro.
As últimas sondagens parecem dar conta conta de um crescimento imanente, embora ignoto, da base de apoio da cooperativa, capaz de fazer vibrar as hostes. Vivemos, por isso, um tempo idealista e ideal. Ideal, por exemplo, para falar de «escalões» e para acomodar critérios de «justiça fiscal.» As contas estão feitas: o povo está tenrinho e os «ricos» pagarão a crise.
Viva Portugal!