Na Quadratura do Círculo (o programa com a música de genérico mais irritante da história das músicas de genérico), o Dr. Pacheco Pereira decidiu denunciar o suposto «carácter extremista» do governo recorrendo a um exercício miserável: a) associou o blogue O Insurgente ao governo (género «câmara de ressonância» ou «correia de transmissão»); b) colectivizou o post do Hélder Ferreira, tomando-o como editorial (oficial) do blogue; c) esqueceu a latitude de tom e de estilo que a escrita em blogues tolera (à esquerda e à direita); d) tentou fazer passar a ideia de que só à direita, sobretudo a direita próxima do governo, ocorrem excessos de linguagem; e e) submeteu o exercício da liberdade de expressão ao critério da sua particular discordância (o regresso do delito de opinião.)
O Dr. Pacheco é um homem inteligente. Mas é, também, um espectacular caso de prostituição intelectual ao ódio e ao rancor. Talvez a expressão «putedo rasca» tenha reverberado demasiado tempo na sua cabeça, ao ponto do insuportável. Não sabemos. O que sabemos hoje, e parece estar clinica e solidamente comprovado, é isto: demasiados anos a estudar o comunismo, deixam a pessoa de bem sem pingo de sentido de humor; tornam-na obcecada em urdiduras, esquemas e conspirações; potenciam exercícios de insulto à inteligência alheia; impregnam as meninges de azedume; e, last but not least, conferem à fácies uma expressão de cãozinho molhado. Tirando esta última parte, tudo é desaconselhado.
“O Dr. Pacheco é um homem inteligente” — Hummm, que quer dizer com isso?
Que mantém intactas as faculdades intelectuais clássicas: memória, imaginação, juízo, raciocínio, abstracção e concepção. Desequilibradas, é certo, mas intactas.
Pacheco devia seguir o conselho que Michael Corleone dá a seu sobrinho: “Never hate your enemies. It affects your judgment.”