Some girls are bigger than others

A forma como a indignação e a irritabilidade tomaram de assalto a fácies enojada de um Pedro Marques Lopes pré-apopléctico, em plena SIC Notícias, despertou a curiosidade e interrompeu a marcha triunfante que encaminhava este contribuinte líquido para o sono dos justos. Que degradação moral tinha voltado a colocar o comentador naquele estado? Tinha sido a entrevista do juiz Carlos Alexandre. Resultado: voltar a este espaço para exercer, uma vez mais, a minha magistratura de influência.

Se gostei da entrevista do juiz Carlos Alexandre? Não, não gostei da entrevista do juiz Carlos Alexandre. Não gostei do tom e entendo, se calhar pobremente, que um juiz não deve expor-se daquela maneira: pseudo-descontraída, «franca» e «pródiga», pontuada de indirectas sobre «causas próprias.»

Também não acho que a entrevista tenha sido determinante no juízo que detractores, simpatizantes, amigos e o Pedro Marques Lopes fazem de Carlos Alexandre, o juiz. Os que visceralmente o odiavam, ou os que simplesmente antipatizavam com a personagem (é o caso de Pedro Marques Lopes), continuaram a desprezar o «saloio de Mação.» Os que o amavam e viam no homem um oásis de seriedade, continuaram a amar o «intrépido juiz.» E os que se estavam nas tintas para os estados de alma de juízes e para o conhecimento, de facto, do homem por detrás da beca (é o meu caso), continuaram adeptos do marimbismo que estes incidentes suscitam.

Mas há uma particularidade que importa sobrelevar. Posso não ter gostado da entrevista do juiz Carlos Alexandre, mas posso desde já assegurar que, no que toca ao desconforto, à inquietação e ao desprazer, a entrevista do juiz Carlos Alexandre foi um passeio no parque quando comparada com as entrevistas de José Sócrates – o elefante-engenheiro que marcou presença em todos os cenários de Mação, por onde o juiz Carlos Alexandre se entendeu passear.

No campeonato do desassossego, as respostas trapalhonas, contraditórias, repletas de pequenas mas evidentes falsidades de um homem que foi, durante seis anos, primeiro-ministro do meu país e decidiu explicar a nebulosa de casos, esquemas e relacionamentos sinistros em que se viu implicado, envolvendo somas de dinheiro incomportáveis com os rendimentos do próprio, colocam as entrevistas de José Sócrates a milhas de distância da do juiz Carlos Alexandre.

Nunca vi em Pedro Marques Lopes, ou nos que facilmente se abespinham com o «estado da justiça», o mesmo tipo de incómodo, preocupação ou tremendismo quando altos dignitários da nação decidiram exercer em prime time autênticas sessões de harakiri, convencidos, como diria o dr. Costa, das «suas verdades» e da infinita capacidade do povo ignaro engolir meia-dúzia de patranhas.

Se coloquialmente nos vêm dizer «coitado, o homem pode ser inocente, o dinheiro pode mesmo ser de um amigo que durante uns aninhos lhe passou para as mãos largas quantias em numerário e um apartamento em Paris», seria de esperar que também nos dissessem «coitados, o processo é tão complexo e crescentemente invadido por novos dados, que provavelmente estará aí a razão do atraso.» Mas não. Em certos comentaristas, que autodidactamente tiram licenciaturas em direito e mestrados em sistemas judiciais, vamos continuar a assistir a esse floreado, desequilibrado e enviesado.

Durante muito tempo, Pedro Marques Lopes encheu a boca, aos pulos (notável esforço acrobático), da «presunção da inocência», da mesma forma que agora, como antes, descarta sumariamente qualquer «presunção de competência» ou «de boa-fé» relativamente a juízes e magistrados do Ministério Público. À «presunção da inocência»: tudo. À «presunção de um trabalho sério»: nada. «A justiça colapsou», escreve Pedro Marques Lopes. Nem mais.

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