Facemirror

A vastíssima população humana que investe horas do seu dia-a-dia no Facebook – do hipster que quer dar conta do brunch que lhe esvaziou a carteira e conspurcou a barba, à mãe com o «bebé mais bonito do mundo», passando pela boazona que pela quinquagésima vez avisa estar solteira (leia-se disponível para consumo) durante umas férias em Punta Cana, e acabando nos que às segundas, quartas e sextas denotam horror ao Face (petit nom), mas às terças, quintas e fins-de-semana o utilizam para difundir urgentíssimas convicções ou para encher o ego – espantou-se com o facto de a rede social presidida por uma criança de caracóis ser palco de patifarias de vária ordem, supostamente violadoras do difuso conceito de «privacidade» (difuso no ecossistema facebookiano, entenda-se).

Mal comparado, a coisa equivale a soprar um boato no ouvido de uma comadre coscuvilheira encartada e, no dia seguinte, estofar-se de indignação porque a notícia veio a lume. E repare-se: a culpa nunca ou raramente é da comadre.

Quem procura o recato ou quem tem mais que fazer, estará por esta altura a borrifar-se para o caso e considerará esta polémica uma sonsice pegada. Por uma de duas razões: ou porque convive bem com as «quebras de privacidade» (o pouco que publicou é irrelevante e as investidas das Cambridge Analyticas parecem-lhe risíveis), ou porque pura e simplesmente não põe lá os pés.

Está no ADN do Facebook escancarar existências, na sua generalidade tristes? Não. Está no ácido desoxirribonucleico dos seus utilizadores. Os mesmos que agora se queixam mas não largam o circo. Fim de conversa.

Standard

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s