A perder qualidades desde…

Consta por aí que tenho abusado da complacência e da candura; que a sinecura me amoleceu e me afastou do escopo; que perdi o norte (e me entreguei ao sul); que brinco com assuntos tremendos; que corro sérios riscos de invertebração; que tardo em inscrever-me nas perplexidades da vida política moderna; que pareço parvo e forrado do mesmo. Anda gente desconfiada à minha volta.

O respeitável Rui Ramos avisa-me: o meu divertimento comprova a incompreensão da «doutrina das etapas» do PCP e do BE.

Ouço «doutrina das etapas» e estremeço. Confesso-me assustado. Sinto-me não recomendável. Era criatura para me inscrever num aggiornamento doutrinário que me espicaçasse a verve e me pusesse em sentido. Em contrapartida, concubinei-me com a bonomia e encaminho-me para o opróbrio.

Vamos falar a sério? Ok.

Ao certo, ao certo, pretendiam o quê? Um bloco central prontinho a servir a estratégia da extrema-esquerda, que cavalgaria a onda com o populismo troglodita que a caracteriza e contribuiria decisivamente para a pasokização dos partidos moderados?

Um governo minoritário de direita que, como está bom de ver, passaria agora a ser tratado com respeito e boa-fé, em conversas «francas», reuniões «construtivas» e convergências «desinteressadas», no mais são e escandinavo ambiente parlamentar?

Um Presidente que chumbasse o(s) arranjinho(s) e, de caminho, lançasse o país numa batalha campal, estendendo o tapete à estrondosa e insuportável vitimização da «esquerda destratada»?

Uma sublevação do Regimento de Lanceiros? Um pronunciamento militar de cariz patriótico?

Como diria Oliveira Martins, «noutras terras, com outra gente, havendo melhor sangue, mais juízo e maior critério», poderíamos falar do que seria se fosse.

Resta-nos isto. E o beaujolais.

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3 thoughts on “A perder qualidades desde…

  1. A democracia terá ADN? é que é comum os dirigentes africanos que perdem, clamarem por vezes violentamente (fisico) contra as eleições: No sul soalheiro, parece estar a fazer escola o determinar como ilegitimo os acordos que se fazem no parlamento. Andando mais para norte aceitam-se sem pestanejar muito (acredito que tambem pestanejem um pouco) os resultados saidos dos parlamentos e os vencidos telefonam a felicitar os vencedores. O que nos falta aqui?
    ,melhores tudologos, melhores politicos ou melhores eleitores?
    Presumo que uma ensaboadela de tudo.

  2. Pingback: Às avessas? | Macguffin vs. The World

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